...Decidi ir esticar as pernas e fui passear pela vila, sentei-me aqui perto de um hostal, que é uma casa rural muito simples e bonita, sentei-me aqui na esperança que aparecesse alguém para perguntar o preço de uma noite. Mas também me sentei a apreciar a paisagem, essa sim bate qualquer coisa e infelizmente não tenho máquina para vos poder mostrar e acho que também não a consigo descrever como ela realmA caminhar sobre aquela paisagem soberba, para ajudar estava um dia radiante, paramos para comer um pouco, beber e também conversar, estivemos ali vinte minutos apanhar aquele solzinho maravilhoso e então voltamos à descida, desmontamos as tendas e fizemo-nos ao caminho, agora sim ficou duro, pois o peso quase que triplicou e já tínhamos algum desgaste, mas com algum esforço à mistura chegamos à plataforma de Gredos onde nos desequipamos, despedimos e voltamos à dura realidade com a saudade de lá voltar brevemente, valeu o esforço…ente merece, mas posso sempre tentar.
Estou sentando num morro, encostado a um poste de alta tensão, mas tensão realmente só no poste, pois acho que a calma neste momento invadiu o meu espírito. Do meu lado esquerdo posso ver o pequeno hostal e um pinheiro aqui bem perto, um conjunto de árvores despidas e por trás destas, e já a percorrer a visão da esquerda para a direita, vê-se a pequena vila de Oyos del Espinos, por trás desta e com a visão cada vez mais a fugir para a direita começa-se a ver o branco da neve nas montanhas. Já com uma visão completamente horizontal começo por avistar uma estrada de terra batida que parece levar o sentido da minha visão, mas num ápice desaparece completamente para a direita onde a minha vista não alcança, mas fazendo um azimute e fugindo à estrada lanço o olhar em frente como que a fazer um corta-mato e avisto um descampado que termina num pequeno bosque. Começa a juntar umas réstias de neve devido a sombra que a copa das suas arvores faz… muito rapidamente atravesso meio bosque e deparo com uma casa linda e pacata, continuo-o a percorrer o bosque e a minha vista esbarra com uma montanha vestida de um branco puro, quase que inviolável e impenetrável. Só neste pequeno alcance da minha visão consigo ver o fumo de uma pequena queimada no descampado, vejo cavalos a pastar já na fronteira entre o descampado com o bosque e vejo uma quantidade incrível de aves a planar neste pequeno pedacito de Terra.
Agora e já depois de ter descansado mais um pouco, encontro-me aqui na bodeguilha onde a noite começa a cair. É lindo ver o céu juntar-se à terra e ficarem um só.
Depois de 14 horas de sono e um banho quente estou mais que em forma, teve mesmo de ser, ainda me aguentei até as 13 horas e depois não mais aguentei, peguei no carro e dirigi-me para a plataforma de Gredos, onde apetrechei a mochila, calcei as botas e lancei-me numa investida a solo até ao circo de Gredos num percurso que está previsto fazer-se em 2 horas e 30 minutos e onde demorei 1 hora e 50 minutos, num deserto vestido do branco da neve, num percurso lindíssimo.
Uma primeira parte do percurso de média dificuldade sendo a segunda bastante mais acessível e é já nesta segunda metade que começo a avistar ao longe o circo de Gredos, que passo a descrever.
Um grande vale com um grande lago gelado e coberto de neve, lindo, mais à frente avisto o refúgio e ao lado o nosso acampamento, ainda que muito longe claro mas inconfundível pois as cores vivas das tendas contrastam com o branco solitário da neve, e em volta do vale, erguem-se umas montanhas lindas incluindo o Almanzor, o pico mais alto. Parecem proteger o enorme, mas mesmo enorme vale, quase que diria que são os guardiães de Lo circo de Gredos, mantendo o respeito no circo.
O último dia, o dia de Cume, ainda era noite quando acordamos, seis da matina mais precisamente, sai duma tenda onde dormiram cinco pessoas preparei a minha mochila com o que precisava para este dia e dirigi-me ao refugio onde tomei o pequeno almoço, enchi o meu cantil com água e fiquei pronto, partimos para o cume às sete da matina, temos de apanhar a neve mais rija e o dia seria longo, numa caminhada lenta a inclinação ia aumentando à medida que nos aproximávamos do Almanzor, fizemos a ascensão pela portilha del crampon e quando chegamos ao ultimo reduto antes do ataque ao cume, deparamo-nos com um aglomerado de gente que também pretendia atingir o cume, a visão começa a ser cada vez mais espectacular pois começamos a ver para lá das montanhas que protegem o circo, numa imensidão para qualquer que fosse o lado que olhasse-mos, num instante passamos à frente daquela gente e preparamo-nos para o ataque final, foi então que na minha cordada uma rapariga deixou cair o seu piolet, nada que não fosse logo resolvido pelo João Garcia, foi buscar o piolet e num instante estava de volta, é fácil admirar um atleta desta natureza. Prosseguimos o ataque e pouco depois lá estávamos no ponto mais alto daquela cadeia montanhosa, estivemos lá muito pouco tempo, a descida foi efectuada por outro lado, percorremos umas cristas de umas montanhas e começamos a descer.
In Diário de Sierra de Gredos
by César Oliveira (sherpa cozinheiro)